terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Série Reflexões 4

PARA AQUELES QUE CHEGAM, UMA MARCA BRILHANTE DEIXADA NA HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA 

Para Luci Praciano (in memoriam) 

Djalma Agripino Melo Filho

No último sábado (1º de dezembro de 2012), perdemos um dos mais ilustres patrimônios do nosso Movimento Sanitário: Luci Praciano Lima. Lamento também afirmar que a perda ainda é maior, pois o estoque com as qualidade deste BEM é mínimo e pouco renovável.

Conheci Luci, em 1985, lutando pelas Liberdades Democráticas, pela Constituinte e criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e engajada na eleição de Jarbas Vasconcelos para Prefeito do Recife, a primeira de forma direta após 1964. Depois, trabalhei com ela na Secretaria de Saúde do Recife, na Secretaria de Saúde de Pernambuco, no Núcleo de Saúde Coletiva da Fundação Oswaldo Cruz e, finalmente, na Universidade Federal de Pernambuco.

Dizer que epidemiologista mantém convivência pacífica com gestor/planejador parece anedota. Essas aves geralmente não voam junto, uma vive se queixando da outra. Mas entre mim e Luci foi diferente. A forma de pensar e agir em saúde pública de Luci ampliava os horizontes cartesianos da minha pobre epidemiologia. Luci transformava a tabela dois por dois numa tabela n por n, agregando cenários, atores, tomada de decisões, enfim o mundo real com suas virtudes e sortilégios. E isso me fascinava. Como aprendi com você, minha amiga!

O campo de ação de Luci foi a política de saúde e seus desdobramentos na gestão / planejamento. Defensora intransigente do BEM PÚBLICO, da excelência técnica e do agir comunicativo na solução de conflitos, quem de nós não via em Luci uma mediadora de conflitos em gestões de saúde? 

Para a geração que começa, ou já está mergulhada nas normalizações do SUS, lembro que, em 1986, quando integrava a equipe do Secretário Paulo Dantas, portanto dois anos ANTES da criação do SUS (Constituição 1988), ela esboçou o primeiro Distrito Sanitário do Recife, o de Casa Amarela, configurando, com o princípio da integralidade, o que hoje se chama de rede de atenção à saúde. PIONEIRA, somente depois de 10 anos, a distritalização foi efetivada em leis e portarias. 

Vivenciou, na Secretaria de Saúde de Pernambuco, em meados dos anos 90, o maior processo de descentralização (municipalização) de serviços de saúde; participou do Núcleo de Saúde Coletiva da FIOCRUZ como professora de muitos sanitaristas que hoje ocupam lugar de destaque no SUS; como gestora do Mestrado em Saúde Coletiva da UFPE, além de orientar dissertações, colaborou para o seu fortalecimento e projeção externa do programa.

Na vida cotidiana, se sobressaía em Luci um elenco de virtudes: generosidade, rigor científico, honestidade intelectual, prudência, polidez, cordialidade, serenidade, ternura, firmeza nos momentos certos.

É por todas essas razões que lamentamos e choramos a perda de uma pessoa que só fez HONRAR a tradição das lutas do povo pernambucano, especialmente do Movimento Sanitário, criado na década de 1970.
FONTE:  Facebook.

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